sábado, 8 de maio de 2021

Mães da Resistência | JotaBills

O CatPoppers convida o DJ Jotabills e suas mães para dar uma entrevista exclusiva sobre como são as suas relações, foram feitas perguntas para entender melhor como foi todo o processo de aceitação da sua homossexualidade. 


Quando seu filho contou para você, qual foi sua reação?


Rosane/mãe:  Normal, devemos aceitar nossos filhos como eles são, porque ninguém escolhe como vai ser ou agir neste mundo, cada indivíduo tem sua particularidade e nós como mães devemos apenas fazer nosso papel de mãe que é amar.

Nena/tia: Quando ele veio me falar eu agi normalmente. Devemos aceitar a pessoa e não a orientação dela, isso não define nada, devemos nos preocupar com outras coisas muito mais importantes como o caráter.

Rita/tia: Não tem o que agir, cada ser humano tem uma vida individual, cada um age e faz dela o que bem entende. Não cabe a nós querer escolher o que outro pode ou não fazer, e nós como família temos como dever apoiar e acolher.


Como é sua relação com o seu filho?

Rosane/mãe: Nossa relação desde a infância foi de muita união e amizade. Temos liberdade em tudo, ele me conta tudo sobre ele e eu sobre mim. A maior certeza que tenho é que como mãe pude transmitir toda a verdade que tenho sobre a vida e isso passou a ele uma segurança que foi essencial para que ele viesse conversar comigo sobre sua orientação e sobre todas as coisas que ele faz, isso é uma relação muito verdadeira.

Nena/tia: Ele é realmente um filho para mim. Meu companheiro em todos os momentos, sempre me ajuda no que pode, ele me transmite muita verdade e eu confio muito nele. temos uma relação de amizade mesmo, um confia no outro e isso é nítido em tudo que fazemos.

Rita/tia: O João (Jotabills) é uma pessoa muito boa, de personalidade forte que vive rodeado de amigos por causa da luz que ele transmite, todas as vezes que a gente sai junto se divertimos e compartilhamos das mesmas ideias e escolhas. Ele tem um coração muito bom e trata todos muito bem, se damos muito bem. Eu tenho um grande sobrinho.


Qual o seu maior medo em relação ao mundo lá fora?

Rosane/mãe: O meu maior medo é que no mundo a fora, existem muitas pessoas egoístas e que não sabem respeitar as pessoas que não são iguais a eles e acabam massacrando as pessoas do meio LGBTQIA+.

Nena/tia: Eu fico muito preocupada, vivo mandando mensagem ou ligando para saber se está tudo bem e onde ele está. Como vemos diariamente na televisão existem muitas pessoas mas nesse mundo. Eu sei que ele não vai fazer mal pra ninguém, mas não sei como as outras pessoas irão agir e existem pessoas muito hipócritas que gostam de se intrometer na vida dos outros, e muito desses agressores também são LGBTQIA+ mas acabam agindo desta forma para tentar mascarar o que realmente eles são.

Rita/tia: Meu medo é que muitas pessoas são muito preconceituosas com o mundo atual, eles estão no século errado, cada um tem sua livre escolha, seu livre arbítrio, eles têm a obrigação de respeitar. E essas pessoas muitas das vezes tem preconceito com muitas outras coisas como racismo e classe social. E eles têm como dever respeitar a sociedade.


Qual o conselho vocês dariam às mães de LGBTQ+ que ainda não aceitam seus filhos?

Rosane/mãe: Vocês como mães devem aceitar seus filhos como eles são, a gente não tem essa escolha. Ele só tem uma particularidade que o torna único, e é isso que faz o meu e o seu filho ser ainda mais especial.

Nena/tia: As que não apoiam estão agindo errado, é seu filho! Devemos começar a fazer o bem dentro da própria casa, não adianta querer mudar o mundo e não mudar suas atitudes. Comece por você!

Rita/tia: Essas mães têm que ter consciência que seus filhos estão sujeitos a serem diferentes e não devemos criar um modelo de filho perfeito. Nem Deus que se sacrificou por todos na antiguidade é considerado perfeito, quem dirá seu filho. O mundo já bate muito nos LGBTQIA+ pelo menos dentro de casa devemos priorizar o amor.


Algum recado específico?

Rosane/mãe: Sejam vocês, sejam felizes, sei que muitas mães não aceitam seus filhos assim como eu aceitei o meu. Mas tenham força e saibam que ainda existem pessoas boas que irão te amar assim como vocês são.

Nena/tia: Sigam em frente, vocês tem que se aceitar e não deixar a sociedade impor as coisas sobre você. Sei que o mundo ainda tem muitas pessoas ruins mas também tem as boas que algum momento irão te sustentar e independente da crença acreditem que Deus ama vocês do jeitinho que vocês são.

Rita/tia: Se aceitem, Deus ama vocês. Se você se sente bem, isso que importa. Ninguém neste mundo tem o poder de julgar o que o outro pode ou não ser. Sejam felizes e aprendam a se amar.

 


    Fonte: Arquivo Pessoal 


Jota como foi ser criado por 4 mães?

Me sinto muito honrado em ter tido esse privilégio. A um tempo atrás uma das minhas mãezinhas veio a falecer e esse foi um choque muito grande, pois ela era uma das minhas maiores inspirações assim como todas são. Um conselho que minha mãe Roseli me dizia é que eu deveria ser quem eu quisesse ser, ela sempre me apoiou em tudo seja na vida pessoal, profissional ou acadêmica e isso foi fundamental na minha vida.  Espero muito que um dia todas as mães possam enxergar que independente da nossa orientação nós somos seus filhos e que o amor delas e aceitação é fundamental para a nossa auto aceitação.

Nesse dia tão especial só quero agradecer por ter essas referências de força e amor na minha vida. Sou muito grato por todo amor e por terem travado essa luta comigo, sim luta, porque diariamente eu e minha família, lutamos para que uma pessoa LGBTQIA+  todos os dias, deixe que ele tenha livre escolha e faça de si mesmo sua vida real. Agradeço a Deus e ao universo por ter minha família em minha vida. Gratidão a Catpoppers pela oportunidade dessa entrevista de poder mostrar um pouquinho das minhas rainhas.

                                                                                          Matéria por: Layla Fran 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Pátria, Corpo e Amores Livres para Vencer | O assassinato de Lindolfo Kosmaski

Lindolfo Kosmaski era jovem, homossexual, professor, pós-graduando, ativista do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e morador de São João do Triunfo - PR, foi brutalmente assassinado e queimado no dia 1º de Maio em seus 25 anos de idade.  

No último sábado o corpo do ativista foi encontrado carbonizado dentro do seu próprio carro no interior de São José do Triunfo. A delegacia local que investiga o caso, junto da delegacia de São Matheus do Sul, ainda não aferiu comprovações sobre o caso, apontaram apenas a possibilidade de ser um crime de ódio pela sua orientação sexual e/ou pela sua atividade no MST. Contudo o delegado defende que a cena do crime demonstra uma alta probabilidade de ser efetivamente um assassinato planejado, em especial pelos depoimentos coletados de moradores da região que ouviram tiros durante a madrugada em que foi morto.  

Dessas poucas informações que as investigações nos permitem ter ciência, podemos destacar os dois aspectos que parecem ser motivadores dessa fatalidade, sua sexualidade e sua atividade no movimento social em questão. Relativo à sua orientação homoafetiva consideramos que quando uma pessoa LGBTQ+ é agredida ou morta planejadamente há sempre relações com sua identidade, na medida em que a cultura da heteronormatividade caracteriza-os(as) como corpos estranhos, desviados, não importantes. Já referente à sua participação no MST, podemos especular que sua morte, assim como a de outros militantes desse segmento, está atrelada a sua luta pelo direito a terra, pela necessidade de produzir alimento em áreas não produtivas que “pertencem” a grandes latifundiários apenas pela condição histórica de posse da terra, em processos como os de sesmaria. Portanto, sua perda pode estar atrelada a conflitos do seu assentamento com interesses políticos e econômicos dos coronéis desse século.  



Foto: Rafael Stedile 



Embora as informações da investigação não nos proporcionem confirmar que sua morte tem motivações políticas, ora de sexualidade, ora de luta pela reforma agrária, não podemos desconsiderar esses elementos. Em uma análise sociológica do fato, em um olhar histórico, podemos argumentar que as mortes tidas em cenas que representam homicídios, assassinatos, de pessoas LGBTQ+ ou do MST, são sempre mortes intencionadas.  Nunca um LGBTQ+ é assassinado sem motivação da sua identidade, assim como nunca um militante da entidade supracitada é vítima fatal sem estar em confronto pelo direito a terra.  

A morte de Lindolfo precisa ser investigada em linhas que apresentem a possibilidade de motivação por crime de LGBTQfobia, assim como de assassinato por interesses políticos. Dentre os gritos de Justiça da sua entidade, um deles ecoa: Pátria Livre, Venceremos! Considero que esse é o momento de gritarmos Pátria, Corpo, e Amores Livres para vencermos! 

Lindolfo, presente!


                                                                                                             Texto por Guilherme Portela


Guilherme Portela, graduando em Pedagogia na UEPG, pesquisador de Gênero, Sexualidade e Educação, membro da comissão de diversidade e gênero da OAB-PG, do Conselho Municipal LGBT e da Parada Cultural LGBT+ dos Campos Gerais. 

Julie San Fierro conta um pouco mais sobre os bastidores do seu visual set, o Bestiário.

Foto: Dezevecki / Edição: Julie San Fierro Por Amanda Dombrowski Bestiário é um Visual Set lançado por Julie San Fierro onde ela abre o seu ...