segunda-feira, 3 de maio de 2021

Pátria, Corpo e Amores Livres para Vencer | O assassinato de Lindolfo Kosmaski

Lindolfo Kosmaski era jovem, homossexual, professor, pós-graduando, ativista do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e morador de São João do Triunfo - PR, foi brutalmente assassinado e queimado no dia 1º de Maio em seus 25 anos de idade.  

No último sábado o corpo do ativista foi encontrado carbonizado dentro do seu próprio carro no interior de São José do Triunfo. A delegacia local que investiga o caso, junto da delegacia de São Matheus do Sul, ainda não aferiu comprovações sobre o caso, apontaram apenas a possibilidade de ser um crime de ódio pela sua orientação sexual e/ou pela sua atividade no MST. Contudo o delegado defende que a cena do crime demonstra uma alta probabilidade de ser efetivamente um assassinato planejado, em especial pelos depoimentos coletados de moradores da região que ouviram tiros durante a madrugada em que foi morto.  

Dessas poucas informações que as investigações nos permitem ter ciência, podemos destacar os dois aspectos que parecem ser motivadores dessa fatalidade, sua sexualidade e sua atividade no movimento social em questão. Relativo à sua orientação homoafetiva consideramos que quando uma pessoa LGBTQ+ é agredida ou morta planejadamente há sempre relações com sua identidade, na medida em que a cultura da heteronormatividade caracteriza-os(as) como corpos estranhos, desviados, não importantes. Já referente à sua participação no MST, podemos especular que sua morte, assim como a de outros militantes desse segmento, está atrelada a sua luta pelo direito a terra, pela necessidade de produzir alimento em áreas não produtivas que “pertencem” a grandes latifundiários apenas pela condição histórica de posse da terra, em processos como os de sesmaria. Portanto, sua perda pode estar atrelada a conflitos do seu assentamento com interesses políticos e econômicos dos coronéis desse século.  



Foto: Rafael Stedile 



Embora as informações da investigação não nos proporcionem confirmar que sua morte tem motivações políticas, ora de sexualidade, ora de luta pela reforma agrária, não podemos desconsiderar esses elementos. Em uma análise sociológica do fato, em um olhar histórico, podemos argumentar que as mortes tidas em cenas que representam homicídios, assassinatos, de pessoas LGBTQ+ ou do MST, são sempre mortes intencionadas.  Nunca um LGBTQ+ é assassinado sem motivação da sua identidade, assim como nunca um militante da entidade supracitada é vítima fatal sem estar em confronto pelo direito a terra.  

A morte de Lindolfo precisa ser investigada em linhas que apresentem a possibilidade de motivação por crime de LGBTQfobia, assim como de assassinato por interesses políticos. Dentre os gritos de Justiça da sua entidade, um deles ecoa: Pátria Livre, Venceremos! Considero que esse é o momento de gritarmos Pátria, Corpo, e Amores Livres para vencermos! 

Lindolfo, presente!


                                                                                                             Texto por Guilherme Portela


Guilherme Portela, graduando em Pedagogia na UEPG, pesquisador de Gênero, Sexualidade e Educação, membro da comissão de diversidade e gênero da OAB-PG, do Conselho Municipal LGBT e da Parada Cultural LGBT+ dos Campos Gerais. 

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